31 de jan. de 2011

SÓ A VERDADE VOS PRESERVARÁ - - 10ª entrevista


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Para melhor compreender as confusões mentais do Maluco, convém iniciar a leitura pela 1ª entrevista, de Jan 2010
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30-01-11
Pequeno grupo de estudantes, prestes a terminar o segundo grau, anda pelo bairro a procura do  maluco Pão Doce. Depois de algumas ruas, avistam um vulto lá do outro lado do jardim. Parece alguém deitado.
Aproximam-se e constatam - é o Pão Doce, roncando à patas soltas, com o boné atravessado sobre o rosto, gravata velha tombada para o lado.
Uma jovenzinha curva-se, com delicada voz inicia despertá-lo ...

— Sr Pão Doce... Sr Pão Doce ...

O ronco daquele corpo adormecido, anêmico e definhado, não permite efeito à insistente voz da jovem.

Sr Pão Doce...  (Nada !)

Então a jovem tenta remover o boné do rosto do dorminhoco.
Assim, como se o corpo fosse impulsionado por molas, o maluco despertou de sobressalto, agarrando-se ferozmente ao boné...

_ Ahhhh, desgraça! Tão jovem e já ladra de uma figa? Maldito mal que se alastra dia a dia... Como Pode? Por que vocês, juventude ladra, estão sempre  tentando roubar o meu boné?

Apavorada, a jovem salta para traz, enquanto alguns partem para amenizar o susto, identificando-se e preparando para dizer o motivo de ali estarem. Outra jovem toma da palavra ...

         — Senhor Pão Doce... perdão! Tranqüilize-se, não é roubo. Nem somos da juventude ladra. Ladrões são os adultos e velhos que nos mentem, descaradamente, prejudicando nossas existências, ao nos fazerem crer em suas mentiras vis. Viemos em paz. Há quase hora e meia, estamos a sua procura. Só agora o encontramos.   
     Permanecendo deitado, ainda com os olhos um tanto turvos e lacrimosos, o maluco vai suavizando a fisionomia de pânico. Nunca gostou que terceiros o flagrassem dormindo.
— Que querem vocês? Não vêem que estão me atrapalhando? Cortaram minha transmissão de pensamento a alguém de minha alta consideração.

Assim como em todo grupo de adolescentes existe sempre um “Joãozinho” gaiato e atormentador... um desses arrisca ...

— Mas Pão Doce, transmissão de pensamento ronca?
— Meu inquieto jovenzinho... não, não ronca! Mas quando é para sua genitora, ronca. E ouço-a gemendo...
Alguns caíram na gargalhada. E o Joãzinho, ficou naquela de: se permanecesse calado, melhor.
Mas uma terceira moça, a mais idosa do grupo, toma as dores do rapaz, tentando perfurar a armadura do maluco, pondo-o na condição de grosseiro, mal educado.

— Creeeedooo! Sr Pão Doce! Precisava se expressar assim, ao nosso coleguinha? Que falta de fidalguia!...
— Bela e jeitosa senhorinha, ainda que já meio passada... Pelas pastas que levam nas mãos e sob axilas, percebo serem estudantes. São essas pessoinhas estudiosas o que mais prezo neste mundo. Em verdade, senhorinha, não houve ausência de educação de minha parte. Apenas quis colaborar com uma lição a vocês. Talvez, jamais a tenham, nesses moldes, da parte dos professores formais.
Pela resposta que dei a esse meu querido jovem, a quem peço melhor compreensão, apenas sugeri: ninguém, mas ninguém, injustamente, venha a mim de rebenque, que poderá encontrar-me triscando esporas. E é assim que vocês todos - lembrem-se - devem estar prevenidos, por motivos vários, que a vida se encarregará de mostrá-los. Espero tenham entendido a mensagem.
Mas por favor, em posição de Buda, sentem-se aí a meu redor, para  conversarmos mais à vontade.

O grupo, já menos afoito, senta-se. O inquirido coloca o braço na condição de travesseiro. Agora um outro rapaz, de modos comedidos e voz convicta, entra na conversa...

— Senhor Pão Doce... viemos a sua presença. Já sabemos, o bairro todo sabe, que o senhor será imperador de uma pátria; que é um exímio telepata, conforme, há instantes, pudemos constatar. Sabemos dos seus aconselhamentos aos maiores governantes do mundo... e de outras tantas virtudes de sua pessoa.
De modo, senhor, que após ouvir nossas razões, desejamos que nos brinde com sua opinião, ou avaliação direta, destituída de seus costumeiros auto-elogios. É questão de evitar perda de tempo. Será possível, assim?
— Incisivo jovem, se algum de vocês pensa eu desapontado com sua pronta objetividade, propondo que eu suprima verdades a respeito de minhas monumentais virtudes e saberes... esse alguém erra. É de homens e mulheres de menos fala e de mais ações objetivas que o mundo necessita – e muito – desde que obedeçam, integralmente, as minhas diretivas. Porque, se eu não falo, se não me dedico a intermináveis falatórios quando solicitado, como poderá salvar-se o mundo? Por exemplo, por que vocês estão a minha procura?
Mas vamos aos fatos. Sou um par de ouvidos.

O mesmo rapaz prossegue na fala.

— Sr Pão Doce, aproveitando o ensejo das recentes ocorrências patrocinadas pelas intempéries, uma das nossas professoras nos determinou um trabalho de grupo, a respeito da perda de tantas vidas, por violentos desbarrancamentos e torrenciais enchentes. Em resumo, o tema é: “Medidas de proteção para evitar tragédias impostas pela Natureza.”
         Pusemo-nos a pensar por dois dias. Concluímos: - é fácil criarmos encrencas com a Natureza? - É. Mas como detê-La? Pelo Google, soubemos que a população humana no Planeta é absurda em número. Pela televisão, rádio e nos templos religiosos soubemos  da intensiva pregação, para que a humanidade prossiga se proliferando em enormes famílias . Isso é próprio dos gafanhotos, conforme já lemos, inclusive, em um dos seus pronunciamentos ao bairro.
Para sobrevivência, os gafanhotos vão devorando as florestas reguladoras dos fenômenos meteorológicos. Desse crime devastador ao Planeta, que conduz ao suicídio da humanidade... pelo Google Earth também demos vários vôos a baixa altura em torno da Terra. Que tristeza! Constatamos a imensidão de áreas devassadas, de uso extremamente agressor à   Mãe Natureza. Devastação generalizada.
Mas os gafanhotões  mentirosos nos engrupem com evasivas, sempre que nos espantamos com os efeitos causados pela proliferação demoníaca, de gafanhotos, a que nos induzem.
Nos dizem que as águas estão se escasseando, pelo que devemos ter cuidado com os pinguinhos caídos das torneiras. Mas, ao mesmo tempo,  a Mãe Natureza mostra que não aceita gambiarras sugeridas pelos gafanhotões, ajeitadores ao prosseguimento da farra de aumento populacional sem limites. E, em simples amostra, a Natureza aniquila inocentes crédulos e ignorantes, com trombas d’água, pelos transtornos que a Ela a gafanhotada vem causando. Não é só trombas d’água, Sr Pão Doce, a previsão é de alternância com gradativas e terríveis ondas de calor, até de descomunais nevascas.
Dizem-nos dos perigos de alimentos produzidos à custa de intensa aplicação de defensivos agrícolas, drogas aos animais. Perigos a nós, a várias espécies, inclusive à fauna aquática receptora de enxurradas, que morre envenenada ainda nos primeiros dias de vida, cujo descalabro passa despercebido a nossas vistas. Mas como produzir tantos milhões de toneladas de alimentos necessários, sem o recurso artificial dos venenos?
Percebemos, ainda, Sr Pão Doce, que é infrutífera qualquer tentativa de diminuição da carga humana, terrestre, para retorno à vivência em meios e recursos naturais. Porque os caminhos dos infernos religiosos e econômicos, em que encurralaram a humanidade, não permitem meia-volta.
Tudo discutimos em detalhes, Sr Pão Doce, na esperança de, apesar de nossas poucas experiências, encontrarmos  idéias coerentes ao trabalho em grupo.
Diante das dificuldades para apresentação razoável ... eis que em dado momento, o “Joãozinho”, esse que o interpelou há minutos, nos despertou para algo importante, que estávamos esquecendo: a proteção de Deus, quando dEle mais se necessita proteção, nos graves casos de penúria.
E com clarividência, nos lembrou de relevantes certezas: - que Ele é poderosíssimo; - que foi Ele quem criou a Terra com todo o arcabouço meteorológico, ecológico, coisa e tal; - e que é, a toda prova, um Deus Fiel em proteção e salvação aos seus devotos.
Otimistas, pusemo-nos de atenção lógica a essa nova linha de raciocínio. Porém nos vimos premidos numa conclusão, conforme segue... 
O senhor está nos entendendo, Sr Pão Doce?
— Sim, filho, sim ! Estou de olhos fechados, mas atento. Prossiga.
— Assim fomos concluindo: se Deus protege os seus fiéis adoradores, então, os exterminados nesses sinistros naturais, aqueles que morreram sem proteção alguma... eram todos hereges, indignos dos cuidados de Deus. Se Deus é Fiel e se, de fato, não nega fogo quando seus adoradores correm perigo, não nos restou outra alternativa, senão a de crer na heresia de todas as vítimas mortas ao abandono. Mas se crentes fossem, pela inegável fidelidade de Deus, nenhum teria perecido, principalmente as crianças por Ele tão amadas.
Estávamos prestes a conclusões, quando, ontem à tarde, a  “Joaninha”, irmã do “Joãozinho” ... essa aí, Sr Pão Doce, nos disse que viu e ouviu, na televisão, um santíssimo pregador dizendo que Deus, nessas desgraças de enchentes, não quis a morte de ninguém; que a culpa da mortandade é toda dos homens públicos, que não tomaram anteriores providências para proteger os fiéis, da morte.
Então, Sr Pão Doce, novamente entramos em parafuso conceitual. Novo revertério. Concluímos que Deus ampara e protege seus fiéis e adoradores só se, anteriormente, já estiverem protegidos por outros humanos autores de  medidas protetoras. Sem esse pré-requisito, sem chances!
Em situação obscura, embasbacados na elaboração do trabalho grupal, voltamos à professora expondo-lhe nossas dificuldades em dar seqüência fundamentada ao tema.
Após ouvir-nos, ela pensou... olhou para o teto, pensou... e nos disse:
— Procurem o maluco Pão Doce. Coloquem o tema a ele. Ouçam o que poderá sugerir.
— Mas professora! ouvir o Pão Doce? Tem cabimento, isso?
(Perdoe-me, Sr Pão Doce, mas foi assim que a retruquei)
— Procurem-no!  (insistiu ela)
— Mas o que poderá saber, ele, a respeito de tema tão complexo?
— Meus alunos, saibam: esse andarilho é pior do que aranquã cantando na cumeeira de um rancho, às três da madrugada. O bicho fala na mesma proporção de sua loucura. Uma experiência a vocês. Talvez dê certo, a fala da criatura os inspire.
Procurem-no. Porque não abro mão do trabalho. É prova! Com direito a nota de avaliação.  Vão, vão, vão ! ...

— Então, Sr Pão Doce, foi assim. E aqui estamos em sua presença pedindo-lhe alguma opinião, se for de sua vontade expressá-la.
— Meninas e meninos... Não posso elogiar-me de antemão?
— Não, já sabemos que o senhor é um sabichão, construtor da cidade.
— Percebo estar rodeado de jovens feras reflexivas, situação que mais me apraz, por sentir que, de arrocho em arrocho da Natureza, as novas gerações irão despertando do sono hipnótico em que a humanidade vem subjugada, há milhares de anos.
Então me permitam o agradecimento, que lhes peço transmitir à professora, pela elogiosa referência de mau gosto a meu respeito.  
Mas, vamos ao que interessa, principiando pelas conclusões secundárias a que chegaram. Concluíram que criar gravíssimas encrencas com a Mãe Natureza não tem sido difícil à humanidade, sempre pressionada por loucos a se reproduzir irresponsavelmente. Tudo bem! Até parece que vocês já ouviram algum meu discurso, em dias passados.
E quanto ao Deus, o protetor, vocês concluíram  ser Ele protetor apenas dos fiéis que, de antemão, já estejam protegidos por humanos. Se não protegidos por si, ou por outros... dançam? Foi essa a conclusão?
— Por ora, foi.
— Então, para direcionamento do trabalho escolar, resta única alternativa capaz de libertá-los do entrave. Para proteção contra sinistros e quaisquer outras desgraças, voltem-se e raciocinem sobre soluções dadas por humanos idôneos, talentosos, de boa vontade. Apenas  deles, e da previdência de cada um,  dependem os milagres de proteção e preservação dos demais. Se esse critério não solucionar os graves problemas em que os loucos nos engarrafaram, meus queridos, o mundo prosseguirá se complicando.
No decorrer dos anos de vida que terão pela frente, prossigam raciocinando, conforme o fizeram nesses dias passados – buscando verdades.
Jamais aceitem como válidas as afirmativas  inconsistentes de salafrários, exceto quanto a fatos já debatidos, sob comprovação racional, por parte de pessoas mentalmente equilibradas.
Enfim, notem o que dizem os maiores fantasistas do mundo: “buscai a verdade, que a verdade vos libertará.” E desandam a mentir!
Eu, do alto desta grama em que repouso, digo:  continuem, perpetuamente, buscando a verdade. Porque só a verdade os liberta e preservará. Sigo deitado e orientando... investiguem se minto no que disse.
Concluam o trabalho escolar, amiguinhos. Votos para boa nota. Por hoje, nada mais a lhes dizer.

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28 de jan. de 2011

VIRA-RIOS, AMIGO DO IVO - - 9ª entrevista

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28-01-11

— Pão Doce pare de tanto gesticular! E que tanto fala sozinho? É o seguinte, cara, preciso de uma forcinha sua. Um amigo me escreveu referindo-se a umas fotos antigas da Capital Paulista, que eu lhe enviara.
Assim como as antigas cidades vão desaparecendo por substituições, o Ivo associou o fato de nós também irmos passando.
Então, você, que às vezes se aproveita algo do que diz, poderia me sugerir alguma expressão, para retribuir ao meu correspondente?

— Ô... da canoa! você de novo, no meu pé? Tá loco! Não me dá sossego...
— Desculpe o jeito, Pão Doce. Me releve a intromissão. É que estou um tanto apressado.
— Com sua boa sorte, se dê por felizardo. Em atenção, interrompi a audiência espiritual que cedia ao meu fraterno amigo, um ex-presidente africano, Ide Amim Dada, que, antes de me conhecer, governava sob conselhos de crocodilos.
— Mas logo ao Amim Dada?
— Sim, rapaz. Sem preconceitos, atendo a todos que me procuram em busca de pensamentos frutuosos. E por atender até defuntos, lhe darei duas idéias, sob compromisso de você, logo após, queimar o chão d’aqui. Amarrado?
— Sim, sim. Meu tempo também urge.
— Então diga pro seu amigo que a vida é um chocolate amargo. Amarga devido as safadezas que nos impõem os nossos semelhantes, filhos não se sabe de quem. E adoça porque, apesar das adversidades, tem o sabor de boas surpresas e amizades.
            Então, vamos. Escreva, lá, as seguintes idéias. Deverão figurar como de suas impressões de vida, e do esporádico papa-rios que você é.
— Será texto longo?
— Só sei que já vou iniciar o ditado. Após o epílogo, deixe-me livre, saia da minha presença.  Em meu cérebro estou sendo insistentemente requisitado por consulentes telepáticos, internacionais e de outros mundos.
Se você concluir que o rascunho serve, envie-o ao Ivo.  Se ele vai gostar, ou não, é problema seu. 
        Anot’ aí –

PARQUINHO

Vou passando... Nessa passagem pela vida
tantas coisas me vão chegando... e passam.
E com elas um dia também serei passado.
Cada evento cada paisagem um sorvo de paixão.
Entro no elevador, me sorri tão candidamente
a idosa de cabelos azulados.
Abre-se a porta – que vejo? Uns, ridentes
outros não. O Office-boy muito apressado.
Sigo achando tudo interessante!
No restaurante de luxo, uma desproporção.
Ingiro bem menos da variação mostrada.
Meu bolso ferrado geme a dor da jactância.
Tudo bem!
No escritório de um amigo, me apresentam
um manipulador. A criatura afronta-me a cabeça.
É sugando que enriquecem tão depressa.
O mar é bom. Entre peixes, alimenta medusas e moréias.
Mesmo assim que alegria vivenciar realidades!
À margem do rio, eu, duas laranjas
mais a paçoca e carne seca.
Um banquete! Mãos lavadas. Sob as unhas
a tarja preta - barro entreunhado.
Não dou a mínima! Tenho a fome
que me faz contente se consigo saciá-la.
Almoço como um rei
contemplando a majestade das águas correntes.
Deixo a canoa na praia. Logo ali
um humilde casebre me desperta a sensibilidade.
Ninguém por perto. Parece-me ...
ah sim ao longe ouço vozes.
Pela trilha vão chegando seis crianças e os pais.
Todos em andrajos. Um chuvaréu de risos!
Surpreende-me tanta alegria
vivida em precárias condições.
Me enternece o que vi e partilhei.
Em momentos vários assim e por assim
que espetáculo viver!
Por onde quer que nos fundões eu tenha andado
sempre fui bem acolhido.
Gosto de minhas andanças.
Durante horas rodo nas estradas.
Cada quilômetro uma existência.
Nos longos trajetos vivo várias vidas virtuais
volvidas às veias e ventos da viração.
Após cada curva de rio uma surpresa
um novo panorama.
Minha carteira magra... meu carro antigo e lento.
Sorte! Se rápido, me viria o tédio
de um Brasil muito apertado.
Gosto dos meus parentes.
Gosto de tudo, gosto dos poucos amigos leais,
morrendo de amores pelos falsos.
Gosto dos meus objetos,
da cama em que repouso.

É... os anos têm me passado.
De manhã ao espelho, ouço das minhas ralas cãs
e dos avisos que no rosto vão surgindo...
aos poucos sigo ouvindo a Voz Materna:
— Vem filho meu! Já brincou por um bom tempo.
Vá se despedindo do parquinho.
Quanta saudade estou sentindo, meu amado...
Vem aos meus afagos, filho do meu ventre...
Volve à eternidade do meu colo!

Enxugo o rosto mantendo os olhos no espelho.
Ainda com tanto apego às diversões
penso em respondê-la mentalmente:
— Per’ aí Mãe! Já vou! Só mais um pouquinho...
Mais umas tantas pedradas dos teus em minhas costas
só mais umas 300.3  idas para o encanto dos meus rios.
D’aí eu volto. Tá bão? Um beiiiiijo Mãe! ... ... ...

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24 de jan. de 2011

DOS PODEROSOS ÍCONES - - 8ª Entrevista

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 02-01-11 

Zoológico, numa tarde domingueira, a coincidência. Um desses astros de shows religiosos, exatamente aquele que ao pregar berra, se sacode todo e salta - provando sua origem nos primatas - inesperadamente, encontra o maníaco. 
E porque há tempos vinha preocupado com as futuras diretrizes a serem emitidas pelo pinel, em sua futura pátria,  antes que o maluco reconhecesse a dupla, de supetão  lhe pergunta  ...

— E os ícones religiosos, Pão Doce, como serão tratados  na pátria que governará?
— Olá, amigo! ... sem conflitos! Só doçura... risinhos de mel, gracinhas, coisa e tal. Como diz o meu refrão,  repetido pela humanidade: “não é com vinagre que se apanham moscas”. A todos agradarei. É meu estilo de governo.  Na construção da pátria, esses ícones religiosos serão nossos mais  dissimulados sócios. Lhes concederemos parte do que mais almejam.
Terão aparente campo livre, em conformidade com cláusulas do acordo secreto, ou tácito, que estabeleceremos. Os melhores atores e atrizes não serão os dos palcos tradicionais. Os mais talentosos da arte dissimulativa pulularão nos templos e salões, em shows de religiosidade.   
Pela validade artística, enquanto nos forem úteis, os manteremos recompensados de variadas formas. Não lhes faltarão válvulas vazantes nos dutos subterrâneos, em que  correrão nossas cifras geradas por entorpecentes, extorsões, peculatos e afanos aos  cofres públicos.
Daquelas válvulas verterão néctares irrecusáveis. De tal sorte que templos e mais templos, como carrapichos, brotarão da terra.
Dedicarei especial atenção aos ateus de mau caráter, que se fingem de crentes, na descarada profissão de estelionatários das crenças de fé; esses vigaristas, que se auto-apresentam ao povão leso, na condição de “diferenciados homens de Deus”. Por farsantes, saberei coletar seus ziguezagues para futuras ações desmascaradoras, a menos que se coloquem em extremado compromisso de fidelidade às minhas conveniências políticas.

Nesse instante, o rei dos shows de macacadas estranha e cala, fica ligado. Mas o  acompanhante, um gringo de fala enrolada, fingindo não pertencer à enorme confraria espalhada pelo mundo, se intromete perguntando, com algum sotaque...

— Mas, Pao Doce, eu como desentendida no assunto, perguntar: - será que o people por lá nao vai desconfiar de tanta brotaçao de templos, envolvendo tantos dolars?

Agora, já reconhecendo a dupla, o maluco  se desfaz da postura simplória e libera quem de fato é...

— Oportuno aparteador, intrometido gringo... Para quem não conhece a natureza do vulgo - o que não é seu caso - a dúvida seria aceitável. Os do povo, desprovidos de observações precisas, de nada desconfiarão! As referidas obras estarão distanciadas entre si, o que dificultará  a percepção da realidade.
Levantem-se! Sentem-se! Dançando! Balançando braços sobre a cabeça! Diga x,z  aos que estão a sua volta! Abrace os que estão a seu lado! Quem ouviu, levante a mão! Quem viu levante o braço! Cantem! Falando em línguas! Sentem-se! Levantem-se! Falem em línguas... e assim, os rebanhos irão se submetendo à sutil entrega mental, manobrados pelos hipnólogos nos templos e salões, sem a menor chance de se darem conta dos truques de sujeição que lhes vão sendo aplicados.
A ignorância mantém e  entrega a mente cega.
Após anos de obediência e idolatria aos manipuladores de suas cabeças - meu suspeito gringo – os rebanhos preferirão crer que - tanto aquela referida brotação, quanto as inúmeras reformas de templos e outras formas de empreendimentos comerciais - tudo será milagre da multiplicação, apenas e apenas, de seus dízimos, ofertas e compras – sem a menor suspeita quanto às constantes sugadas nos dutos dos meus porões. E nisso tudo - abusado gringo - você é o refinado mestre desse seu amigo, aí.    
Certamente, eu e os da sua corrente, e os de outros estilos de pregação, haveremos de nos dar bem, ao sermos do mesmo jaez: exímios camaleões, supremos na empulhação das mentes incapazes de pensar.
Os efeitos de satisfação pela fama de cada ícone religioso; bajulações recebidas em culto à personalidade; as enormes receitas resultantes de intensivas aparições nas mídias, a vida mansa, as deliciosas mamadas em nossos vazamentos subterrâneos; - todas essas benesses manterão vocês, ícones das fantasias, inteiramente satisfeitos, garantindo-me fraterna convivência, para sucesso do meu estilo de governo, na pátria maquiada. 
Entretanto, mesmo assim, eu e meus ministros jamais lhes assentiremos total confiança, por sabermos do instinto e ânsia de poderes mantidos entre suas têmporas. Eu e os meus, conscientes do que  nos poderá custar qualquer descuido, para mantermo-nos sempre atentos às entrelinhas de suas pregações, até nossas piscadas normais as reduziremos a um décimo.
E digo de mais concessões. Essas alas de homens de Deus, por formada de indivíduos sexualmente mal resolvidos, as deixaremos livres ao que mais lhes apraz: - o intenso desmerecimento à sexualidade humana e o estabelecimento do modelo de fornicação, a ser  imposto e obedecido pelos rebanhos: fornicar apenas para emprenhar. Qualquer algo mais será taxado de luxúria. E, sem embargos, por meio de seus olheiros, terão livre patrulhamento sobre “quem estará transando com quem”. 
Enquanto se distraiam com essas preocupações de nona prioridade, nós, os governantes, nos valeremos da distração fingida, para sugarmos o sangue e suor dos meus súditos produtivos. Esses, os manterei na condição de “renas da Groelândia”, sempre ameaçados pelos meus  improdutivos eleitores subornáveis, numa perfeita narcodemocracia participativa.
Permitirei que os poderosos ícones, dos quais você faz parte, passem horas e horas, anos e décadas, repetindo as mesmas fantasiosas estorinhas de tempos remotos, condenando o sexo, falando do faraó, de Moizés, David e Cristo - e pedindo dinheiro ao alienado povo, para um  Deus todo poderoso.
Outra importantíssima atribuição da qual encarregaremos esses homens e mulheres de Deus será  a de, em suas pregações, desviarem a atenção dos rebanhos, para longe da atuação dos nossos, do crime organizado. Para tanto, estarão  sempre culpando a falta de atenção e amor dos pais, por todas as desgraças que os nossos financiadores do narcotráfico causem a cada jovem e família da pátria amada.
Aos seus rebanhos (justa e santa metáfora!) jamais referirão a ação devastadora dos nossos agentes, muito menos  exigindo sejam exterminados, sem chances de retorno ao gerenciamento de nossas cracolândias, e discretas sucursais. Uma terceira função desses preciosos ícones terá cunho complementar às nossas atividades: a oferta de locais apropriados à desintoxicação dos que zuretaremos, por força e consumo das trouxinhas em promoção, por nós mantidas nas calçadas e praças de todos os bairros da augusta pátria. Essas santas instituições serão fontes de emprego improdutivo, subsidiadas pelas burras da pátria.
Uma quarta função desses ícones será a de, com veemência, senão aos berros, colocarem a ridículo, perante os rebanhos, qualquer ovelha que possa sugerir legislação estabelecendo julgamento sumário e pena capital aos incorrigíveis comandantes do crime coordenado, escondidos nos partidos políticos, no comércio, inclusive, atrás de testamentos religiosos.
E mais outra função – a predileta, a que mais lhes gera orgasmos nas masturbatórias pregações:– a perpétua difamação dos ateus conscientes e valorosos, ainda que, na maior cara de pau, estejam cotidianamente se valendo dos serviços e inventos dos que tanto infamam.
A simpatia, o alegre acolhimento, por parte dos rebanhos, serão fatores fundamentais a esses ícones, baluartes e  PhDs  das religiões, que deverão estar sempre a meu serviço, na pose de bonzinhos. 
Então, agora, sopese as recomendações que lhes darei, como veredas de sucesso: -- em relação a direitos (bônus) a serem reclamados contra a pátria, os ícones terão plena liberdade de informar os seus chipados. É simpático, muito simpático, anunciar direitos, ainda que vários possam ser de vezo injusto, até ridículo. 
Mas, e da contrapartida, ou seja, dos ônus cívicos, obrigações em favor da pátria? Que recomendarão aos rebanhos? Nada! absolutamente, nada! A esse respeito, permanecerão omissos. Porque dizer de deveres e obrigações gera antipatias nos enxames de  zangões.
Porém... ah, sim, em se tratando de obrigações para com suas igrejas e ícones de Deus... ahhhh... aí, simmm! À exaustão e gritos, serão todas exigidas, até com ameaças de assédios do Demônio sobre a carneirada...

O gringo, muito intrigado, após troca de olhares com seu sócio macaqueador, torna a se pronunciar, agora escancarando de vez a sua laje.

— Sir Pao Doce, custa-m' crer no que I estar ouvindo. Para vóce, como God se manifesta? Nao é por meio dos humanos por He iluminados?
— Gringo ... por suas barbichas! - veja. Se você põe a pergunta no singular, a resposta poderá lhe chegar correta.

— Com' ássim... na singular? Nao entender.
— Parece que, há anos, tenho gritado num deserto !  Quando o mundo vai crer no que, inutilmente, venho revelando sobre Deus?
Na primeira do singular, fica claro, conforme tenho dito: eu sou Deus. Assim sendo, falo por meu intermédio. Porque é só a mim que eu, verdadeiro Deus,  me ilumino, quando necessito radiar alguma verdade imutável a meu  respeito. Espero  não tenha lhe restado a menor dúvida.
Mas, estranho gringo... se você insiste em crer em outro deus que só manobra por meio de pilantras aqui na Terra, então, lanço-lhe uma definição exata, curta e grossa:
Deus é explicação de tudo aos crédulos; pelas mentiras, conforto às mentes inseguras; fonte de terror aos impressionáveis; fortuna ao charlatanismo religioso e místico...

— Stop! Stop! Excuse me interrompé-l’. Olhar... sir Pao Doce, a outros loucos quanto you, suas idéias até poderiam distrair como gracejos. Pelas sintomas, hoje o surto tomou-o por inteira. Mas... valer !  porque é de um people composto por millions and millions de retardados quanto vóce, que, we, homens de God, precisamos para nos dar bem, vendendo “God te abençoe” por todas as recantos, nao da your futura pátria, mas de um fantastic país de todos. Tome lá five dolars para um cofe e duas cochinhas. Passar bem, mister Pao Doce. Good-bye...
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17 de jan. de 2011

ESTACAS DA JUSTIÇA - - 7ª entrevista

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12-01-11

Enquanto o Sol ia se mostrando além das sete horas, numa das portas da padaria ...

— E aê ô... Pão Doce ! Bom dia! Tudo numa boa? Vi você ontem à noite, dormindo lá no banco da praça. Como consegue adormecer sobre superfície tão dura?
— Larga mão, meu doutor ! O que é que um litro de cachaça não transforma em cama de sultão? Tome tento, excelência!
— Tá certo... é isso aí... É servido tomar um cafezinho comigo? Estou pensando em escrever um livro sobre sustentáculos do direito. Quem sabe se, no seu palavreado chulo, você me induz alguma inspiração.
— Doutor, já ultrapassei o estágio de sentir ressaca. Mas apesar do gosto ruim que sinto na boca, ainda não consegui dominar a fome... essa sensação de estômago esfregando borda com borda... Seu convite não poderia ser mais providencial. Desde antes de ontem, nada comi. Já que o doutor está me convidando, vou aceitar dois sandubas, três cunhas de empadão e ...
— Um copo de leite?
— Qu’ é isso, mestre! Não desejo falecer tão rápido... eu ia dizendo quatro cunhas de empadão e... um copo de cachaça para mandar fogo de encontro.
— Mas, você, Pão Doce, você se sai com cada uma! Que fogo de encontro é esse?
— Simples recurso de dupla aptidão. Aceiro com fogo menor corta sinistro de fogo maior. Se, por um lado, uns bons tragos da gostosa debelam a ressaca do porre anterior... por outro, inspira ao próximo.
— Então, pede lá pra garçonete. Talvez esta padaria não sirva pinga ... Mas vamos ao que me interessa ouvir. Abra o jogo. O que você pensa da Justiça e seus pilares, como base garantidora da convivência social?
— Justiça é um dos ingredientes das artes políticas. Nesse assunto, sou o áulico das cortes.
Há instantes, despertei de um sono tão bom, por malvadeza dos garotos que tentaram afanar o meu boné.
Estou um tanto irritado. De formas, doutor, apesar da irritação, recorrendo ao repositório de meus conhecimentos da galáxia jurídica, discorrerei sobre o tema de modo rudimentar, já que, por julgamento de sua menor inteligência, me expresso em linguagem chula. Serei breve, para que meu lanche não esfrie.
Em síntese, doutor, sustentando o arcabouço judiciário, existe leis, o aparato de interpretá-las e o corpo de peticionários ao aparato.
Enquanto letra, a lei é morta. O aparato de interpretação e aplicação pode ser um tanto inerte, senão falho, quando sob o modelo bunda de chumbo.
— Pão Doce, durante tantas décadas no estudo e militância nos fóruns, jamais ouvi sobre esse estranho modelo. Trata-se de algo gerado em seus delírios?
— Não, meu caro jurisconsulente. Trata-se, apenas, de concisa definição do modelo atual. Esse mesmo, aí, em voga, constituído de juízes e promotores sentados em suas cadeiras limitando-se, por lei, à espera de papéis formando processos, muitos, não mais que indigestos pastéis de mentiras, geralmente, temperados pela parte desejosa de lesar alguém, engrupindo os encarregados de fazer Justiça.
O senhor sabe da existência de processos, e não são poucos, que tiveram a apresença de seus julgadores de primeira instância, nos locais em que se deram as bases dos litígios - para melhor conhecimento das alegações apresentadas; para mais acertado julgamento e decisão? 
Veja que, em alguns processos, esses comparecimentos e análises locais se fazem muito mais importantes que contra as mentiras digitadas em papéis, e/ou de falsas testemunhas. Ou não?
 Um dia haverá de imperar melhor bom senso nas lides, em prol de mais segura e lúcida justiça.
         Por adição, consoante a lei, esse aparato de interpretação e julgamento também é inerte, quando não provocado à ação. E quando provocado, doutor, eu já adentrando a elementaridade da presunção, o aparato poderá estar degenerado tanto na estrutura, conforme já dito, quanto no arcabouço ético e moral dos que intercedem em seu nome.
Agora, vamos ao corpo de peticionários do direito - os advogados. Esses, em teoria, baluartes do judiciário; os que provocam, combatem, zelam e garantem o exercício da boa Justiça. Pelo menos, assim é de presumir-se !
Todavia, para correspondência ao presumido, esse corpo essencial deve estar convicto não só de suas obrigações profissionais, sociais, éticas, cívicas, como também armado de fibra, entusiasmo e zelo aos valores democráticos. Haverão de ser amantes dos fatos que mais se aproxime das realidades.
         Do referido corpo, poderá haver os que se interessam, unicamente, em ir fundo nos bolsos dos clientes aflitos na dependência; outros, porque acomodados, pensarão apenas em seus interesses familiares e patrimoniais, pouco se importando com o lamaçal de injustiças, reinante na sociedade de que partilham; ainda outros poderão mostrar-se covardes, amedrontados ao demandar contra poderosos gangsteres da política, ou do submundo das falcatruas econômicas. E em vala assim, esses covardes venderão a cabeça dos clientes à parte adversa, ou a trocarão por privilégios e favores.
         Quando o perfil comportamental do corpo de peticionários lembrar os traços do flagelo judiciário que acabo de referir, o grande corpo nacional estará sendo  transformado num antro de desesperanças; da desordem e do... leva quem for melhor enquadrilhado -  buracos negros da depravação jurídica.
         Felizmente, essas lamentáveis degenerações jurispossíveis jamais serão vistas em parte alguma, exceto na pátria que governarei, graças às ocultas concertações que, por força do meu império, lá haverão de enquadrar  castelos, ruas e fóruns.
         Doutor, neste raro evento alimentar, de nada abro mão ; quero tudo que for do meu direito:- por favor, passe-me essas bisnagas de mostarda e catchup ...


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15 de jan. de 2011

LEGALIZAÇÃO DA SATIVA - - 6ª entrevista


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Para entender a personalidade do Maluco, inicie a leitura pela 1ª entrevista, Jan 2010.
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28-02-10
Um inveterado maconheiro encontra-se, acidentalmente, com o maluco Pão Doce, em Higienópolis.

— Oi, Pão Doce... bom te ver ! Beleza?
— Sóooo, pura !
— Pão Doce, ontem eu tava  na calçada, batalhando uma cachimbada de pedra. De repente, passou uma senhora reclamando que o filho foi diplomado no curso básico sem a menor condição de leitura. Reclamava da famigerada aprovação compulsória em cada série. Será verdade? Quem inventou essa sopa no mel, nesta província?
     — Olha... essa obra prima da boa política foi do papa-filhotes, o mesmo que enterrou nossa província em dívidas de juros crescentes, para com os cofres do Rei. Assim a endividou, ao opor-se à privatização do banco provincial, falido por assaltado da parte de políticos e funcionários.
Foi o mesmo governador sabichão que, para remediar a dívida cavalar em que afundara a província, resolveu entregar as rodovias a células da sua máfia, cobradoras dos pedágios mais caros do mundo. Pedágios que na formação dos preços - além de todas as despesas, gastos das células e seus lucros, e mais bens adquiridos para repasse à província - além desse descomunal agregado, incluiu mais o elevado aluguel das rodovias a ser repassado aos usuários, para rodarem nas pistas anteriormente construídas com o dinheiro dos próprios contribuintes.
Esse cara é o que se elegia encantando o eleitorado com  estorinhas fantasiosas.
— Verdade, mesmo? De que partido era?
— Se não me falha a memória, pertenceu àquele partido que surgiu como abortado pelo ventre daquele outro partido mafioso. Lembra-se?
— Lembro, sim, Pão Doce. Veja como são as coincidências: agora, em 27 de fevereiro/09, houve publicação de que um outro papa-filhotes, do mesmo partido abortado, é favorável à liberação geral dos nossos narcóticos. O que você pensa disso?
O Pão Doce entusiasma-se por ouvir tema de sua predileção.
— Meu solidário, oportuno seguidor... aos poucos estou me lembrando de sua fisionomia. Parece-me ... em alguma ocasião, fraternalmente já cafungamos de alvejar as ventas! Estou certo?
— Certo, Pão Doce. Aquela vez você patrocinou pó do bom. E como era puro!
— Certamente, creio, foram momentos de elevado somatório intelectual.
Todavia, dessa sua preciosa informação, alegram-me as alvíssaras que traz. Principalmente, por vindas de um dos mais expressivos representantes da nossa “Confraria dos Nobres Cafungadores Tropicais” – que, por graças, é você !         
Assim, agora, ao reconhecê-lo perfeitamente, retribuo à sua ansiosa busca de superior esclarerimento dos fatos. Saiba, então. Referente a esse outro papa-filhotes,  confirmo tratar-se de um dos nossos mais importantes libertários, dentre os narcodefensores. Por seu elevado grau hierárquico nas hostes políticas; por seus antigos vínculos com nossa nobre luta toxicomaníaca, desde sua tenra juventude esse gentleman tem se batido pela descriminação dos nossos antidepressivos.
Devido a sua arguta lábia argumentativa, faz o público crer que é arrojado combatente contra nossa bandeira do crime organizado. E como sabe dissimular! É cabra dissimulador de rumos. Nasceu pra isso. Caminha como nos convém: de calcâneos para frente.
Também, pelo resplendor que sempre soube dar a sua falsa imagem, essa virtude o torna um inimaginável cafungador, atuante em defesa da nossa causa. Em passado recente, ele provou ser capaz de levar, no bico, mais da metade do eleitorado. Com padrinho assim, aliado a outros tantos dos demais partidos... não vai ter pra ninguém. Nós, os Ventas Brancas da pátria, estaremos todos belos na lei descriminante, que haveremos de aprovar.  Já temos até mais um ministro interessado em pôr a descriminação do narcotráfico à discussão pública, ainda que não tenha declarado por interesses de quem, nem de quais instituições.
— Será, Pão Doce, que aquele papa-filhotes, o de calcâneos para frente, tem, mesmo, sólidos argumentos para conduzir nossa guerra libertária à vitória?
— Ora, ora, meu caro Venta Branca... se tem! Imagine!
A vitória da descriminação dos narcóticos não só trará maior felicidade à nação, como também, em decorrência, criará empreendimentos e bons empregos improdutivos, de modo crescente.
 Avalie a afilada competência de argumentação do nosso pés-virados: no maior cinismo, sem qualquer contestação de seus ouvintes sonados ou ingênuos, ele convence que a melhor maneira de neutralizar a ação dos lobos é remover os gradis da granja. Defende que, pela facilidade proporcionada, os predadores perderão interesse em devorar patos e galinhas.
            Esse nosso excelso cascateiro mais o exército de aliados do nosso crime organizado inseridos em todos os níveis da política, nos conduzirão aos mais elevados propósitos, principalmente, as futuras gerações  que estarão livres a chaparem-se do que e como bem entenderem.
Com tal avanço social, você pode imaginar maior prosperidade  que terão nossos cidadãos, a partir dos próximos anos? A China e Alemanha que se cuidem. Pelas desordens, descaminhos e patifarias por lá reinantes, se prosseguirem na degeneração cívica em que se encontram, nós, bravos brasi-cannabis, ordeiros, progressistas a toda prova, fumaremos ambas com tripa e tudo!
Vitoriosos, haveremos de criar o dia do “Orgulho dos Ventas Cor da Paz”. Todos de narinas brancas, sobre carros alegóricos, na  Av Paulista... Exibiremos  maior espetáculo da Terra.
Quanto ao referido defensor mor dos nossos ideais, saiba que ele não só foi... continua sendo exímio enrolador de parangos. As confrarias empoleiradas, que lhe fazem coro e blindam, principalmente a composta de aloprados e picaretas, todas se constituem em resumida, mas invencível, centúria do nosso crime coordenado.
Portanto, tranqüilize-se, caro amigo. O reduto está estruturado! É vitória consumada, conte com isso!

— Mas, será mesmo, Pão Doce?
— Ô, rapaz!... quanta insegurança! Puxe de alguns anos passados. Se até aviões daquela força aérea foram postos a serviço do nosso narcotráfico, imagine, em dias atuais, o grau de infiltração dos nossos comparsas, nos redutos superiores da pátria amada.
Apesar das atormentações que nos move a mídia cívica - essa escória insuportável - ainda assim, nossos narco-agentes haverão de ter do nosso amparo, inclusive no estrangeiro, por meios aéreos já referidos, e tributos arrecadados dos otários que produzem bens e riquezas úteis.
        Nossos narcotraficantes terão direito a cirurgias em hospital militar, onde um singelo trabalhador jamais porá, sequer, os pés.
        Está ligando os fatos? meu altivo e caro, Venta Branca!

— Tô não... é que ainda tô meio zoado da última puxada de pedra. Mas creio em tudo que você diz. É essencial crer na vitória, não é mesmo? meu grande sábio!

        Para retribuir a bajulação de seu amigo, o maluco desce a palavreado mais coloquial ...

— Cumpanhero de incessantes lutas... não tenha dúvidas. Quando eu governar a pátria que me será de direito, vou nomear aquele proeminente pés-virados para o cargo de “Presidente Perpétuo dos Nóias.”
        O maior prazer da minha vida será o de, irmãmente, eu, o Chunda e o Presidente dos Nóias, incendiarmos um parangaço  25 x 3, de sativa transgênica. Aquela que a cada puxada mais aperta o nervo ótico... bate na tampa, desce aos pés, e retorna rachando pros miolos. Já bateu dessa?  Vai ser assim. Ehehehhh...  
E digo mais. Caso o Presidente dos Nóias demonstre eficácia no abastecimento interno e no abarrotamento de drogas em praças estrangeiras, conceder-lhe-ei a mais elevada e honrosa condecoração: a Medalha de Grão Mestre Narcopatriota. E terá a incumbência de, com nuestros hermanos socialistas, coordenar nossa indústria hiper-narcótica, exportadora de tope mundial.
 Tudo assemelhado ao já referido em minha entrevista nº1.

— Mas nem quero ser presenteado com cargo público. Me contentaria, Pão Doce, em apenas participar daquela confraternização calibre 25 x 3 que você pretende, com seus cupinchas. Penso naquele monumental parango tamanho família... Você pode me incluir no lance?
— Meu insignificante companheiro! assim você vai mostrando  excessiva pretensão. Veja bem. Nosso meio é hierarquizado.  Nessas confraternizações - entre honrados irmãos superiores – além de tranqüilas puxadas de erva e cheiradas na farinha, sói como normal o planejamento de grandes partidas de mercadorias. Partidas que envolvem pouco capital e elevadíssimas receitas.
Entenda. Também, nesses encontros são agendadas investidas contra os cofres públicos. E outros assuntos mais, que os libertários do baixo clero não devem ter conhecimento. É questão de segurança às nossas mega-operações e de anonimato aos insuspeitos chefões.

— Sim, Pão Doce. Sempre fui humirde, muito humirde. Não me interesso em saber dessas coisas. Nem é de meu costume aproveitar-me dos amigos. Saiba que quando você governar aquela pátria, me bastarão algumas trouxinhas de amostra grátis, já previstas nos seus planos de governo.
Ah, sim... ia me esquecendo: aquele nosso futuro Presidente Perpétuo dos Nóias tem divulgado que as polícias e a justiça estão perdendo a batalha para nossos narco-libertadores.
Nos países com vigência da pena de morte, e processos de rito sumário aos narco-heróis, aos assaltantes, seqüestradores, ladrões dos cofres públicos, e aos que agridem professores... quando lembro disso sinto arrepios.
E se, de repente, inventarem de criar daquelas leis, por aqui?

— Cale essa booooca! mal-nascido! Trave essa língua de trapo! ...que o que se pensa e diz, cedo ou tarde pode acontecer...

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