30 de jul. de 2011

O PERDÃO NOSSO DE CADA DIA -- 16º

Redigido em 12-06-10

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— Pão Doce, por que sisudo? Preocupado? Novo surto... delírio mental?
— Surto? Surto do aporrinhador que está me abordando. Se um pensamento me causava prazer, agora é você que me aborrece. 
O inquiridor se faz de desentendido e prossegue ...
— Mas o que de tão prazeroso tomava seu pensamento?
— Tomava! Agora não mais. Você me cortou o encadeamento das idéias, conforme sói acontecer com o aparecimento de tantas figurinhas chatas.
Meditava sobre o poder anestesiante de que disponho, para manipulação das massas incapazes ao raciocínio analítico, entre as fantasias do que ouvem e a prática de como vivem.
— Pode trocar todo esse volteio em miúdos?
— Todos desta cidade sabem que não sou de engatar conversações com qualquer um. Mas percebo que você está desinformado a esse respeito. E por sua inocência, lhe darei alguma atenção. Espero consiga entender-me.
Por exemplo, a fim de assegurar tranqüilo prosseguimento aos crimes e injustiças, praticados pelo banditismo por mim orquestrado, tenho ordenado, às aliadas organizações manipuladoras das massas, que incutam em todas as cabeças minha amansadora palavra de ordem. Principalmente pela Internet.
— Palavra de ordem às massas? Como assim, Pão Doce... Não entendi. Que eu saiba, massa é coisa pra pão e bolo.
— Mas... amigo cabeça de bolo! massa também serve de metáfora, referindo-se a parte amorfa e manipulável da humanidade, à qual você pertence. Dessa massa, mais do que pão e bolo, extraio muito dinheiro, pelas mais variadas formas de usurpação que concebo e coloco em funcionamento.
Explico melhor, veja como se faz intensa e anestesiante a seguinte palavra de ordem de minha preferência, claro que sempre associada à vontade de um deus a nós bonzinho.
Se meus traficantes de baixa hierarquia invadem até escolas para viciar e destruir seus filhos... a palavra de ordem é: — Perdoe !
Se corruptos e confrarias, a meu mando, assaltam dos cofres  públicos o dinheiro dos seus impostos... — Perdoe-nos ! Indignação envenena sua vida.
Seqüestradores exterminam e levam o terror a sua família? — Perdoe! A bem da saúde, mantenha a alma leve, não é verdade?
Assassinam seus familiares com requintes de monstruosidade ? — Perdoe ! Porque não perdoar, se até deus, por nós pregado na cruz, nos perdoou... não é mesmo?
Gatunos roubam, ou assaltam seu lar? — Perdoe ! Você trabalha em horas extras... Melhor ainda: compra tudo novo. ehehehhh...
Meus crápulas, desses que freqüentam templos, que estão sempre falando em deus, mas que envolvem você em chantagens para extorquir seus bens? — Perdoe-nos ! O sofrimento o purificará para a vida eterna, filho!
Se em quartéis, alguns trombadões fardados assassinam sua fé pública, colocando-o sob chantagem até que chegue a morte física... — Perdoe-os ! Afinal trata-se de insignes e austeros heróis do honroso terror, caçadores de bruxas, marionetes de potência delinqüente.
Por fim, amigo, seja você também manso ovino — perdoe. A ignorância, quanto a hipocrisia, conforta a mente.
Perdoe todos os contumazes praticantes de perversidades.
Perdoe-os sempre, com santo riso nos lábios.
Preces pela conversão de todos nós, do parasitismo social!
Assim, com sua mansidão, perdoando e perdoando, você será feliz numa sociedade felicíssima, onde nós do crime planejado e charlatães possamos agir serenamente, sob a segurança dos perdões, nos conformes do nosso deus gente-fina.
Ei... ei... amigo... ainda não terminei! Porque me vira as costas e vai se mandando? Espere eu terminar o raciocínio... ...
Éhhh... mais um que me enche o saco... Me faz perguntas ... depois não agüenta o repuxo do que digo... Então, que vá pra p. que o pariu !










29 de jul. de 2011

FICHA LIMPA - - 15°

Redigido em 10-05-2010

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Noite gélida, vai se dourando o amanhecer. 
Após levantar-se de entre papelões e jornais velhos, pálido, tremendo, mãos nos bolsos, o maluco Pão Doce segue meio entanguido pela calçada... adentra um botequim...

— Bom dia, amigo. Por favor... quase não estou suportando o frio. Se, por bondade, o senhor me ceder um cafezinho quente, lhe serei grato. 
— Olá, Pão Doce! Até que enfim, visitando novamente meu boteco! hehehhh... Você é o tipo que morre teso mas não perde a panca. Aprecio vê-lo de paletó e gravata. Sempre de bonezinho esportivo, chinelo pau na greta...  coisa e tal... 
— É minha marca registrada, senhor. Nem sei o porquê de tanta gente, a todo instante... sempre no mesmo diapazão... todos se implicando com minha indumentária, quando não por outros traços de minha exuberante personalidade. Mesmo assim, agradeço-o por notar meu estilo de vestir, divisa do meu caráter.
— Mas, Pão Doce... você há de convir: se o estilo revela a pessoa, a abrasão na sua roupa diz que já passou de ir pro lixo.
— Bondoso botequeiro, o vazado por suas retinas resume o contraste entre a pobreza do que cobre meu divino físico e a imensurável fortuna transbordante em meu cérebro. 
— Muito bem! Você sempre com sua enganosa modéstia.
Mas, Pão Doce, diga uma coisa. O da banca de jornal me disse da sua zombaria a respeito da esperançosa aprovação do projeto ficha limpa. Por que procede assim?
— Quanto equívoco, em relação ao que penso! ...
— E mais: corre por aí que seu cérebro oscila mais que capim ao vento.
Afinal, você é do lado da decência necessária, ou da podridão que assola por todas as partes?
— Amigo, o povo fala e fala a meu respeito. Amargas são as infindas difamações a minha pessoa, ao tempo em que cada cidadão, cada autoridade deste mundo, enfim, todos sentem-se inseguros quando sem a luz vertida de minhas teses infalíveis. O da banca de jornal é apenas mais um vivente amigo, que também me reconhece magnífico.
Me escracham, dizem-me um doente mental. Mas não sou eu que vivo a lhes fazer perguntas,  implorando-lhes diretivas, conforme as a mim formuladas por esses meus diletantes detratores.

Ainda trêmulo de frio, porém, um tanto mais animado, o Pão Doce vai degustando o chocolate quente, oferecido pelo botequeiro.
Iniciado o surto, prossegue no embalo...

A maioria dos que me infamam, amigo... não entendem que o que falo, falo não para bajular, nem desagradar. Digo apenas o que deve ser referido.
Pago o tributo da miséria para ser livre e solto nas raias da minha consciência. Disponho de dois floretes de guerra: um de lírios brancos; outro de rosas, caules espinhosos. Uso-os conforme o ambiente parlamentar. Mas a interpretação, quanto a arma que uso em cada circunstância, fica a cargo dos que me ouvem, ainda que o propósito seja sempre o mesmo e único: referir a realidade dos fatos.
Assim espero ter lhe esclarecido parte daquela sua cruel afirmativa a meu respeito.
         Quanto a aprovação do projeto ficha limpa... ora, ora... que tolice !
Fico pasmo em ver quão burláveis e de curto raciocínio padecem as multidões.
Milhões e milhões de indivíduos, todos tão felizes julgando-se vitoriosos em fatídica derrota.
Mas, bondoso amigo, se quiser que eu prossiga na exposição dos fatos e motivos, ofereça-me aquela última cochinha que tão solitária alí está. Não importa que amanhecida. A fome desconhece calendário.
— Toma lá, Pão Doce. De fato, é amanhecida. Depois não diga que, aqui, você conferenciou de graça.
— Não tema tal infâmia de minha parte, amigo. A ingratidão não mora neste peito. Se caverna da fome, também abriga bons sentimentos de sólida consciência.
— Então vá aos detalhes... que me estão custando o que você mastiga.
— Se assim é, assim devo pagar. Então prossigo... No panorama das leis em vigor, a questão, as decorrências e reações ao projeto ficha limpa, seguirão enredos lógicos.
Embora as multidões de otários, crentes nesse projeto, de quando em quando gerem surtos de intransigências éticas, outros sutis detalhes se lhes vão passando desapercebidos, graças ao desconhecimento da real índole de nossos  invencíveis ratões políticos, agentes nos paióis e funcionalismo do  Estado.
         Um detalhe é o de que nem sempre são mãos dos próprios eleitos as que mais assaltam os cofres públicos. Geralmente, dos nossos chefões políticos emanam apenas diretrizes de como instalar, sutilmente, a preponderância do corrupto Estado paralelo. 
     À vista desse projeto, os dissimulados estoques de corruptos disponíveis para nomeações a cargos públicos passaram a valer ouro, em todos os partidos. Quando não conseguirmos elegê-los, os guindaremos por nomeações a tíltulo de confiança.
   Nem poderia ser diferente. As sangrias, desde as menores às mais contundentes, são executadas por funcionários públicos aliciados; por secretários nomeados, tanto por nossos ratões com poderes, bem como pela infiltração de nossos  fichas limpas de aluguel, nas listas de candidatos a eleições de todos os partidos, sempre sob regras de voto obrigatório às massas ignorantes e subornáveis. Compreenda! Os nossos doutrinados ratões, fichas limpas ou não, não dependem de votos. Dependem, apenas, de quem os indique e nomeie para cargos e encargos da roubalheira. Compreendeu a lógica?
         Por outro lado, o senhor note: quando nossos cuiarões são flagrados na roedeira, eles podem perder a incumbência do cargo, mas não perdem a lotação profissional. Permanecem postos em banho-maria por um tempo, recebendo, do Estado, seus salários e vantagens integrais até que, como é de praxe, o rombo caia no esquecimento público. É quando, então, os cuiarões e seus camundongos serão, discreta e novamente, designados ou transferidos para incumbências  ainda mais relevantes, propícias a ataques mais contundentes.     
A própria lei estatutária do funcionalismo público, e do mandato político, os garantirão no cumprimento do instinto roedor.
 Os providenciais Direitos Humanos, a facínoras e ladrões incorrigíveis, complementam a segurança de nossas ações predatórias, sem graves conseqüências pelos  desfalques que praticamos.
A nos valermos dos fichas limpas de aluguel, por nós cooptados, domesticados, infiltrados e patrocinados, após eleitos executarão toda roubalheira conforme lhes determinarmos. E roubalheira continua !
— Mas não é bem assim, Pão Doce. Apesar de você ter revelado de que lado está, sua argumentação é viscosa. 
Saiba que existem penalidades pertinentes e aplicáveis aos crimes de rapina.
— Ora, ora... penalidades ! Todas softs conforme assim tornadas por nossos legisladores infiltrados... E cada vez mais softs estarão, para nossa segurança.  
Amigo, quanto a de que lado estou, estou sempre do lado do que funciona. Nosso banditismo, por discreto, impiedoso e informal, livre de delongas burocráticas, é de indubitável perfeição.
Além de alguns raros casos, o senhor já viu muitos dos nossos insignes ladrões dos cofres públicos sendo destituídos de seus bens, inclusos os patrimônios que passaram em nome de nossos atores da confraria das múltiplas faces
O senhor já viu algum desses nossos azes trancafiados pra valer, por muitos anos - e proscritos da vida pública pelo resto da vida ?
Ehehehhh... nem vai ver, amigo! Cercam-nos algumas trilhas? Abriremos o dobro de avenidas a nossas ações! De forma que nossa organização de míltiplas faces, rainha do mimetismo, permanecerá impávida, perpetuamente parasitária, de ventosas cravadas nas veias estatais dos diversos níveis. Porque o único recurso capaz de nos conter a audácia de corruptos é bala nos cornos, ou picada letal na “BR-3”. 
Se cassarem mandatos dos nossos? Sem problemas! Interessa é que, antes, o rombo já foi cumprido, e o produto agasalhado em nossos bolsos.
— Mas... então, Pão Doce, conforme sua visão não temos saída. Seremos perpetuamente lesados pelo crime organizado, agindo em nossas estruturas  estatais.
— Muito bom o lanche, caridoso amigo... apesar de a coxinha já um tanto azeda.
Mas, contra nós do crime de alto nível, apesar de já muito enraizado, saída a vocês, otários, até poderia existir. Mas é inexeqüível a qualquer povo carcomido pela frouxidão, doutrinado à condição de ovinos em currais de matadouros, a tanto resignados pelos rattus norvegicus  das nossas instituições imperceptivelmente confederadas.
Note que os nossos talentosos detém o total controle sobre as fontes formadoras de opinião pública, inclusas algumas de natureza religiosa, várias por nós subornadas com dinheiro frio, ou favores e facilidades concedidas.
Mas, nós, do crime confederado, e graças às demais instituições simpatizantes, que por jornais, púlpitos e tribunas reforçam a segurança de nossas ações... leis conforme a que me referi em anteriores palavras, jamais as permitiremos vigendo contra nós.  Afinal, não somos loucos... senhor!
Quem atentamente nos observe, perceberá que, se apesar de maviosos nas palavras, somos rudes e engenhosos na roubalheira. Nessas condições, deixo claro: a saída almejada pelo senhor torna-se impossível por meios delicados e borrifos de água benta. Entendeu? 
 Considerando concluída a transação entre o quebra-torto que me ofereceu em troca do que eu disse, com sua licença me retiro. 
 Vou ao banco do jardim, aquentar o Sol sempre necessitado de meu calor e claridade...  Fuuui .....   

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