17 de fev. de 2011

DE FERA A ATEU - - 12º

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13/14-02-11
— Pão Doce, fala’í. O que você pensa dos humanos?
— Acaso, o que penso é de sua conta?
— Foi só pra espairecer. Não está mais aqui quem perguntou...

O maluco, matreiro que é, reagiu com menosprezo ao admirador, para realçar sua imaginada relevância. Notando que perderia a chance de vazão verbal a seus delírios, partiu para a conciliação.

— Bem... pensando bem, meu si’or ... sua pergunta me reflui antigos pensamentos a respeito dos humanos. 
— E como eram esses pensamentos? Destrambelhados como sempre?
        — Sejam como seja da sua vontade. Lembro-me da insegurança de  pássaros criados em gaiola. Assim que notassem aberta a portinhola da prisão, relutavam ante a liberdade. E se forçados à evasão, demonstravam-se confusos, ante o novo mundo.
Essa experiência, caro si’or, me leva à formulação de resposta parcial à sua pergunta.
Bem me lembro de quando nós, os futuros humanos, ainda éramos feras vivendo na ilusória segurança da irracionalidade. Tínhamos apenas duas preocupações - conseguir o alimento em cada dia; e,  movidos pelo instinto de preservação, fugir das situações que nos causassem desconforto. 
Por imprevistos da Natureza, numa dada era,  concomitante à lenta evolução física da nossa espécie, foi se abrindo a portinhola da mente para a capacidade de pensar, infundindo consciência cumulativa.
Nessa evolução mental, a ênfase esteve nas conseqüências ora agradáveis, ora de malogros, resultantes das nossas ações pessoais e de grupos. Conscientização de erros e acertos.        
Os erros forçavam-nos ao raciocínio continuado.       
Iniciamos percebendo que existíamos;  que o espaço tem seus atributos; que estávamos cercados por tantos perigos geográficos, de feras e das intempéries... e, pior, entre os perversos predadores humanos voltados contra a própria espécie. Por mais grave, tomamos consciência do incontornável - a morte.
A gradativa percepção de todas as circunstâncias implicadas na preservação da vida e obrigações inerentes; as apreensões e peso da existência, sem nenhuma poderosa proteção externa, transformavam-se em estressantes sombras de insegurança, mais intensas em uns, menos em outros, conforme a estrutura mental de cada um.
Faltava algo forte e poderoso que nos amparasse, que nos desse alívio e consolo... contrabalançando o crescente pavor ante nossas incertezas, tensão mental por razões diversas, mais a torrente das intermináveis descobertas. 
Meu bom amigo, a necessidade faz o sapo pular. Em um desses saltos, decidimos criar mitos  protetores dos mais variados estilos e formas. Mitos dotados de imponderáveis poderes e sabedoria, mas exigentes de fanática crença dos seus devotos,  e do pagamento de dízimos para gozo da respctiva apólice seguradora.  
Porém, já em mais adiantado estágio, por decisão e esperteza daqueles nossos anciãos dos embrulhos – os profetas - aproveitando-se da  credulidade de jovens e adultos, passaram a acrescentar virtudes de fúria, descontentamentos e poderes de castigo à personalidade dos mitos.
Os espertos perceberam que as mentiras do mundo dogmático-mitológico  e dos misticismos geravam resultados serenadores às almas inseguras, tanto para efeitos de governabilidade quanto para mantença dos tantos privilégios, até enriquecimento aos profissionais das crenças, conforme já me referi em entrevistas a outras platéias.
M’ amigo... a partir dessa percepção, A Grande Mentira de Deuses e Dogmas nunca mais arredou pé de tronos e altares. Onde haja um governante político, por perto sempre estará seu aliado de ofício mitologista, representando a força que domina a mente dos governados.  
Mal saí da fera, me impuseram o mundo das fantasias dogmáticas. Subi o barranco, cheguei no plano do ateísmo consciente. Em menos de três séculos estaremos todos na vivência das realidades – o mundo da solidariedade racional em lugar da solidariedade barganhista.

— Mas Pão Doce, se não houver algo em torno do que as coletividades possam convergir; se não houver temor a algo poderoso, como se dará o convívio coletivo?
— Caro si’or, se nos dizem que o homem é um ser racional, por que motivo sua formação deve ser irracional, com base em emocionalismos fantasiosos, histéricos? Veja essa formação cívica e social que sempre vigeu por todos os cantos do Planeta, ora distorcida pelas crenças, ora pela veemência de taras e vícios. Só problemas! e guerras entre povos, sempre prevalecendo os embustes milenares, sobre a racionalidade. Nem poderia resultar diferente. Tudo que é construído em bases falseadas, ou rui, ou segue gerando intermináveis transtornos.
Quando nos educam sob intensos assédios de que devemos desenvolver a crença de fé, estão nos impondo crermos em todas as mentiras e fantasias mitológicas, que nos empurrem goela abaixo.
A realidade é austera mas democrática, enquanto a mentira, além de arrogante, trai. Tenho dito que a Natureza não aceita gambiarras ainda que de honoráveis trapaceiros.
A formação racional dos indivíduos -  meu si’or - conforme já disse em outras oportunidades, deve ser intensiva, durante a vida de cada cidadão. Deve ter base em valores éticos e cívicos, que resultem em sólida, em fraterna solidariedade entre humanos, também preocupados com a perenidade dos demais seres vivos. Porém tudo destituído de assombros e fantasmas vagantes pelos céus e Terra.
Incutir conhecimentos profissionais sem anterior lastro de valores éticos redunda em fabricação de cínicos, de ladrões desavergonhados; de criaturas não confiáveis; de fóruns abarrotados de litígios, numa sociedade onde todos se dizem probos e ninguém vale nada. Porque o saber sem fundamento criador, meu amigo, não gera outro resultado, além de um  transtornado pardieiro terceiromundista, de insignificante tecnologia, dependente de capital estrangeiro.

— Mas é viável a razão sem um lastro complementar de crença de fé?
— Amigo, no caso, a razão é o que importa. Agora, pergunto - para gerar o sentimento de honestidade, de honradez e assunção de responsabilidades, enfim para produzir boa e firme formação cidadã, neste mundo real, é necessário mentir e fantasiar tanto? Desde que mentiras e fantasias não se sobreponham sobre o que é racional, então ... cada um curta sua fé, para fugas ao mundo fantasioso.
O inadmissível é que os crédulos, por fanatizados e manipuláveis que são, se proclamem no direito de subjugar os de outras diretrizes de vida, fazendo com que se curvem aos delírios de suas esquizofrenias absolutistas, em não raras vezes afrontando a própria Natureza.
Um fato está comprovado: a razão e a farsa são e serão, sempre, mais irreconciliáveis do que água e óleo. Na vez de adoração e rogos a imagens e mitos, o racional é desenvolver  firmes propósitos naturais nos indivíduos, como, por exemplo, a preservação de valores familiares; inclinação ao aprendizado constante, ao trabalho produtivo, contando com a solidariedade dos da mesma formação, nos momentos difíceis que cada um possa estar passando. Importa notar que tais momentos, geralmente, resultam da indolência dos próprios indivíduos ou de outros humanos que os estejam parasitando. Dificilmente causados por animais de outras espécies, excetuados os de infestações patogênicas.

Poucos transeuntes vão se aglomerando na calçada junto à praça, o que intensifica a empolgação vocálica do conhecido maluco -  divertido patrimônio filosófico do bairro.

— Mas Pão Doce, permita-me. E dos ateus que nos conta?
— Pela atenção com que me ouvia, querida si’ora... eu já esperava por algo de importância vindo de sua pessoa, em conexão ao que me referi ao cavalheiro, esse a seu lado, iniciador desta entrevista de elevadíssima magnitude, que lhes concedo. Alegrem-se, desfrutem deste raro privilégio!
Si’ora, iniciarei pelos crédulos das religiões e misticismos, na tentativa de sublinhar algumas diferenças entre esses e os ateus conscientes. O crédulo é crédulo porque não raciocina com a disposição e responsabilidade de quem vive neste, e só neste, mundo real. Em busca de segurança... de conforto, imaginários, se lança em vivência dupla: ora neste mundo real, ora trasladado a um fantasioso orbe esquizofrênico, com base em mitos testamentários e gibis complementares.
Sem prévia análise, usando de descarados assédios atormentadores, passa a alardear sobre o que seus gurus lhe enfiaram na cabeça. 
Como prova máxima de competência, o crédulo se dedica a ganhar dinheiro em algum negócio de rotina comum. Pode acrescentar empreendimentos econômicos, mas dificilmente cria algo de destacada importância inovadora à humanidade.
É comum os bem sucedidos na dinheirança julgarem-se superiores, tanto na inteligência quanto na presumida preferência de favorecimento por parte do mito de adoração.
Mas até para ganhar dinheiro em rotinas, se fanatismo religioso desenvolvesse talento qualitativo os habitantes de Espanha e Portugal seriam os mais ricos do mundo - e seus paises os mais desenvolvidos.
A credulidade fanática, impedindo o raciocínio evolutivo, pereniza o triunfo da mediocridade. As Américas de língua latina estiveram sempre emperradas nisso, e por decorrência, estagnadas no subdesenvolvimento das oligárquicas tradições petrificadoras.
Mas saiba, a si’ora, que quem, por pressão externa ou do meio onde nasceu, foi criado na condição de crédulo, assim que passe a raciocinar e inquirir, no decorrer do tempo, sem necessidade de elevada inteligência, se torna ateu consciente. A partir de então, por circunstâncias de ser ateu, comete o grave crime de gerar insegurança aos crédulos, mas que é de seu mínimo dever: inquirir e reflexionar pelo resto da vida, filtrando e divulgando idéias sobre temas que lhe sejam da atenção.
 Quanto ao ateu consciente, si’ora, só o fato de ter-se tornado ateu já é sinal de que algo diferente carrega no interior da cabeça. Seja como for, o fato é aquele mesmo: o ateu pensa e questiona. Havendo condições e ambiente, cria, conforme tem acontecido. E cria até em condições adversas, quando perversamente interpostas pelos fiéis filhos de mito.
Referente ao ódio e perseguição aos ateus é compreensível. Com seus péssimos vícios de inquirições, mesmo sem nenhuma intenção vingativa, os ateus podem trazer fatos à luz, descobertas e argumentos altamente denunciadores contra as eternas verdades mentirosas das confrarias exploradoras da ignorância generalizada.
Por aí, por todas as partes, estão essas trupes das crenças, crendices e misticismos, si’ora. Ou, individualmente, saem alardeando que conversam com o Mito; que são profetas agindo por mandado direto do Mito – ou em grupo atribuem-se a condição de procuradores dos céus de um mito que ninguém jamais viu no momento da outorga, nem em qualquer outro instante. Ora, mi’amiga, desde antes de eu ter sido fera, desde o início do mundo a tudo assisti. Isso tudo vem perdurando por iniciativa daqueles antigos imbróglios, urdidos pelos milenares autores dos longos poemas fantásticos. Sempre foi assim. Os poetas, os contadores de estorinhas, bem souberam e sabem das fragilidades mentais coletivas, e de como explorá-las pela emoção.

— Mas tenha cuidado, Pão Doce. O Martelo ainda não foi à sucata...
— Sim, sim! Sabemos do fato. Porém, a cada dia a situação dessa gente vai se complicando aos olhos de cada nova geração, mi’a si’ora.  Quem martelou, um dia será martelado. A velada perversidade desses arrogantes, as perseguições e crimes dissimulados cometidos por seus agentes, pouco a pouco, os irão denunciando. Mas a senhora tem razão. Se essas criaturas têm o desplante de fazer profissão vendendo mentiras ao mundo incauto, esses indivíduos, e seus fanáticos de coleira, para o que mais deixarão de ter coragem? São temidos até pelos governantes. Sempre foram de alta periculosidade.
Desde antes dos faraós, essas criaturas assim tem se mostrado, infiltrando-se, produzindo fanáticos até nas forças armadas de várias nações. Os mitos, seus criadores e representantes são tão santos que, como já provado historicamente, nunca vacilaram em se impor, até pelo extermínio.
Conheci um faraó, si’ora, a quem, inutilmente, prestei aconselhamentos  políticos. Certo dia me falou do propósito de decretar o Sol como o deus singular e supremo, o único com direito a adoração, tornando sem efeito as disposições em contrário. Foi numa tardinha como esta. Eu lhe disse: Olha, cara, você vai sentar numa caixa de marimbondos...! Aí ele retrucou: Não, não! Comigo não tem disso, não! Aqui no Egito sou o mandante máximo!
No dia seguinte ele partiu para a decretação. E assim extinguiu o privilégio de muitos carrapatos que viviam de explorar bancas de credulidade dos deuses expurgados.
Si’ora, esse meu amigo cometeu dois graves erros: 1) não se deu conta da força dos instaladores de chip da esquizofrenia das crenças, nas multidões; 2) não calculou a pressão das hordas chipadas, exigindo o retorno dos velhos mitos e revalidação das suas virtudes imaginárias.
Resultado: sua teimosa iniciativa trouxe sua morte no palácio, graves conseqüências ao descendente sucessor. O único de aproveitável foi o registro histórico -  do poder e maldade dos ancoras de mitos arraigados, fato que o faraó ignorou - para lições a serem tomadas por futuras gerações.
Voltando ao cerne do mote, tenha em mente, si’ora. O ateísmo consciente jamais perdura por imposição de força bruta, nem serve de apoio, ou complemento a ideários políticos. É apenas um enfoque tomado como padrão de conduta decorrente de consideração às realidades universais. Deve ser divulgado, demonstrado, despertado inicialmente nos detentores de cérebros discernentes, de firmeza psíquica, de cuja virtuosidade a minoria oposicionista insiste em me excluir, com esforço inglório. Porque não conseguirão me impedir a posse suprema, na pátria que governarei.
Mi’a si’ora, agrada-me sentir toda essa sua atenção a minhas palavras.
Prosseguindo, digo-lhe tomado até de certa emoção: ... felizes os ateus que vivem em países garantidores do direito à incredulidade, livres de assombros, indiferentes ao terrorismo das crenças, sem, por isso, sofrerem perseguições.
Quando assediados, insultados, difamados, por ação de fanáticos do charlatanismo implacável, os ateus que vivem naqueles referidos paises  devem processar os autores nos fóruns dos homens. É a única maneira civilizada de, pouco a pouco, seguir desunhando as patas da selvageria embusteira. É pela denúncia de muitos abnegados que
não mais se incendeia tanta gente
como se queimava, antigamente.
Pela constante preferência da tara do serial killer não há dúvida sobre quem incendiou Roma.
Pela evolução libertária das mentes, pelas denúncias crescentes e destemidas, é que em rincões distantes, os confiscos de humanos, conforme antigamente aconteciam... as pomposas e rangentes carruagens deixaram de surgir requisitando adolescentes de cobiçado frescor e beleza física, tomando-as dos pais crédulos, sob pretexto de permanecerem para sempre noivas do Mito,  isoladas em locais apropriados. Enquanto os pais ingênuos ficavam radiantes com a honraria, mais adiante, ainda no caminho, as vítimas eram fornicadas antes de chegarem aos claustros. A Europa Ocidental sabe do que estou dizendo. Quanto à pedofilia generalizada dos últimos anos, mais as envolvências dos homens de Mito com a corrupção e o narcotráfico... (cala-te boca!). Apesar de tanto e tanto, segue a empáfia, a voz galharda, autoritária, acentuada, santa e firme, cheeeeia de moralll, como se nada, jamais, tivesse acontecido e acontecendo; tudo na mais destilada inocência.
Então, mi’a si’ora... como a si’ora deve estar se dando conta face ao que digo, o caldo de cultura do ateísmo racional é caro, de demorado cozimento. Tem por tempero a vontade de enxergar realidades, disposição a pensar, a vivenciar em constante observação e vigília; muita leitura de autores de mente criativa... São os recursos geradores do natural surgimento de alguma luz sobre as trevas místicas e de crenças, impostas por saturação e o terror dos  extermínios.  Digo a si’ora e a esses milhares de pessoas que me cercam, me ouvem e me ovacionam neste momento: aquela gente que se diz representante do mito todo poderoso... gente! essa gente é de conversa jeitosa, mas, pelas gentes fanáticas que comandam, essa gente é perigosa.
Meus jovens... si’oras e si’ores... o ateísmo, por espontâneo em cada indivíduo, pela vocação racional, nata ou desenvolvida, deve ser dotado das mais sublimes intenções. Mesmo assim, só conseguirá considerável aceitação internacional à medida que a credulidade das multidões ingênuas se desperte para a magnífica realidade do mundo, consoante ao  trecho de estrada que surge nítido, só depois de debelado o fumo em suas margens.  
Advirá o que a tirania das crenças de fé e místicas nunca permitiu: a harmoniosa, a solidária fraternidade democrática entre os povos, com base no ateísmo de lógica humanista; a compreensão e coexistência para com as demais espécies - respeitados os territórios e interesses vitais de cada nação. Mas isso poderá levar tempo, porque o charlatanismo mentiroso é astuto, matreiro, sabe como ajeitar a bola sete  na boca da caçapa e a humanidade subserviente a seus interesses de primazia.

— Sr Pão Doce, que recomendaria aos ateus, atualmente, dispersos pelo mundo?
— Ah, meu jovenzinho... como inteirou-se disso? Bem... primeiramente eu recomendaria se organizarem em instituições legalizadas, locais, federativas, confederativas, ou em algo assemelhado, abertas ao público, para consecução de objetivos de formação cidadã, com base na assunção de responsabilidades sociais, cívicas, de solidária fraternidade. Pôde me compreender?
— Compreendi, sim.
— Pois bem, prosseguindo - codificar valores e virtudes universais, para orientação aos que pretendem seguir pelos rumos do ateísmo consciente e responsável, codificação que poderá servir de base a tantos milhões de jovenzinhos, seus assemelhados. Para tanto, além das diretivas emergentes da própria concepção atéia, poderão ser incorporados preceitos e valores universais inatacáveis, inclusos os constantes de testamentos religiosos, no que diz de asserções aproveitáveis, desprezadas as fantasias esquizofrênicas.  
Prestigiar, praticar e defender a instituição familiar, conforme já me referi. Aglutinar os ateus conscientes, independentemente de classes econômicas, de maiorias e minorias sociais, de cor e raça. Em suas concepções e slogans institucionais não aderirem a tendências ideológicas, com maior razão se opostas ao regime democrático. Repudiar a adoção de idéias e expressões específicas de qualquer grupo ou instituição - de modo a assegurar o amplo propósito ajuntador, imparcial, mantendo o próprio seio associativo como exemplo. De própria iniciativa ou em parceria com outras instituições de convívio sensato, promover ou colaborar em eventos edificantes à cidadania. Como postura diferenciada, para demonstrar credulidade generalizada em tudo que dizem e fazem os ateus, abominar, com declarado desprezo, posturas hipócritas assim como discursos demagógicos. Promover periódicas reuniões abertas a jovens e adultos de ambos os sexos, para culto ao leal companheirismo e troca de idéias sobre variados assuntos, com prioridade aos que digam dos interesses e necessidades dos associados, tudo sempre sob respaldo de conceitos da ética racional. Defender a condição de ateus perante as autoridades, a lei e justiça. Excluir da sociedade atéia todos que denigram os ateus por faltas contra a sociedade. De quando em quando, lembrar e comentar da arte de perseguir, de matar, durante séculos e milênios e conservar-se em serena santidade. Valorizar muito mais a teoria provada, descartando, sempre, os estéreis discursos de teóricos maçantes, empestados de utopias e dogmas.
Para concluir, mi’as si’oras, jovens e si’ores...  que encantados me ensurdecem com suas intermináveis ovações - ... num dado momento, meus amados, a humanidade como um todo haverá de optar: 
afinal existimos para usufruir da vida?  ou para sacrificar nossas existências à construção de grandes impérios e monumentos? ou apenas para nos proliferarmos como praga sobre a Terra, a fim de incrementar a receita de dízimos e ofertas?
E a si’ora? de quem já atendi a xeretisse, a que se decide?

Pela altura do deus solar, creio já transpostas as cinco da tarde. Estou em jejum. Se por cooperação de todos me patrocinarem um hot-dog, serei grato.

— Mas Pão Doce... caraca! você não perde chance em pedir dinheiro. Você não se toca, não? Não lhe basta a ajuda-pacau depositada todo mês em sua conta?
— Meu caríssimo mão de vaca! ... me causaria grave indigestão o que eu ingerisse, se adquirido com a participação de único centavo que fosse de seu bolso. Dispenso sua colaboração! Pela honra dos meus chinelos, de fato peço dinheiro... Tenho pedido, porque com o que recebo mal comporta que eu goze a vida por algumas horas. É por isso que peço. Peço o que me é devido por essas imensas multidões que me aplaudem. Peço para atenuar a fome, e por  modesta cobrança sobre minhas redentoras entrevistas, que a ninguém tenho negado. Muito mais dinheiro – meu querido boquirroto! – muito mais dinheiro dia e noite o pedem os charlatães, por rádios e televisão... Éééééééé ... iiiiiiisso! aqueles messssmos... que você idolatra e não teria coragem de lhes dizer o que me disse, em cruel afronta a minha sereníssima gravata.
Vocês outros, aí... por favor cocem-se ... vão colocando suas moedas ... estou passando meu boné...  
Obrigaado... graaatooo ... agradeeeçoo... que beleza si’orasss, vou me alimentar ... obrigaadoo ... Epa! Você não! Não, não! Dispenso sua moeda... Ah, a da si’ora eu aceitooo ... a do padre tambééémmm... obrigaadoo ... agradeeeçoo ... ehehehhh... nem acredito que vou comer  ... que maraviiiiilha!  ... ...


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6 de fev. de 2011

ÁGUAS PERFUMOSAS - - 11º


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03-02-11
— Com licença, senhorinha, necessito ultrapassá-la...perdoe-me o incômodo...  calçada  estreita, não?...
— Olá, é você, Pão Doce! Como vai?
— Minha prezada, para incômodo de muitos, ainda vivo. Que bom, minha desconhecida jovem... que bom ser surpreendido por sua efusiva jovialidade!
— Se você pudesse, caminhando juntos, poderíamos conversar...
— De momento, nada tenho em extremada urgência. Me será júbilo acompanhá-la até onde seja de sua vontade.
— Então, vamos. Vejamos o que você me diz. Estou flertando com um rapaz, verdadeiro gato! Mas tenho certa preocupação. Ás vezes um namoro pode resultar em casamento apressado, e futuro convívio traumatizante...
Sempre que solicitado a dar conselhos, quando não descamba para surtos de idéias degeneradas, ao inverso, o maluco se enche de pose, enfuna o peito no corpo ereto e mal nutrido. Empostada a voz; olhar altivo, as expressões em comedida exaltação... 
— Minha querida! O casamento pertence à ordem natural da vida. Assim nos indicam os propósitos da Natureza, para perpetuação da espécie. Portanto, nunca se hostilize por antecipação. O casamento, quando bem ajustado, não há instituição que o supere em realizações e sensação de felicidade.
— Mas Pão Doce, como devo proceder para conseguir esse ajuste, sem riscos, no dia de amanhã,?
— Não é complicado. Sempre existiram estágios preliminares denominados namoro e noivado. Destinam-se a, antes do casamento, ou ajuntamento, os pretendentes terem conhecimento mínimo, um do outro, sobre o temperamento, tendências e gostos, maturidade mental, estabilidade emocional e senso de responsabilidade. E o que mais importa: antes da produção de filhos. Porque esses conhecimentos recíprocos são fatores essenciais ao casamento bem sucedido.
— Meu amigo, nessa condição de extrema cautela, poucos terão paciência para coleta e análise de tantos predicados. Se tanto for levado em conta, quase ninguém casa. Mas  vejo tanta gente casando e amigando, todo dia e rapidinho, sem essa burocracia. Sei não, mas sua visão, Pão Doce, é muito formal, coisa do passado. Quem muito pensa perde o trem.
— Filha, às vezes é melhor perder o trem por precaução, do que embarcar em vagão descarrilhável. N’é não?
Infelizmente, casamento bem sucedido não é prêmio de mega-sena a todos os casais.
Desses tantos ajuntamentos a que você se referiu,  grande parte resulta de um fenômeno pouco notado. Resulta do impulso dos seres mais sórdidos, inteligentes e poderosos do Universo, escravagistas de todos os seres vivos, a serviço de sua perpetuação, se possível em evolução fortalecida. São os genes.
Logo no início da puberdade, os genes e seus hormônios explodem em forma de paixão, com tanta intensidade que cega suas vítimas, escravizadas a esses tiranos oportunistas. É o impulso animalesco à procriação - perpetuação dos genes - desprovido de qualquer raciocínio. De tal forma que os apaixonados pouco se importam se o casal possui mútua compatibilidade, à posterior convivência monogâmica do cristianismo. A irracionalidade do impulso reprodutivo sobrepondo-se aos critérios de prudência racional, em boa percentagem, deságua nos mares dos divórcios. O pior da  irresponsabilidade dos pais aparece na angústia dos filhos de pais separados.
E você, apesar de ainda adolescente, creio que já se deu conta dessa lástima.
— É sobre esse flagelo, Pão Doce, e outros desacertos  o que me tortura, só de pensar. Tenho freqüentado até novenas, para livrar-me dessas tragédias, mais à frente.
— Mais importante do que novenas e dezenas, é manter vivo o senso de responsabilidade e critérios, em tudo que se vai fazer neste mundo...
— Perdoe-me interrompê-lo. Me lembrei de algo que vou dizer, antes que me esqueça. Nestes dias recebi um e-mail, um desses tantos que rodam por aí, sobre sabedoria. Haja saco de filó! Graças à Internet, todo mundo virou sábio.  Ihihiihhh... Mas um desses diz que para acasalamento não se deve escolher o pretendido com base no comportamento e índole da família. Por acréscimo, diz, também, não se deve dormir o quanto queremos.
— Sei do que você fala. Tenho um amigo, dono de Casa de Internet. Me permite acesso aos computadores, quando não haja usuários no salão. Ele não aprecia minha costumeira   indumentária formal. Tenho até e-mail em meu nome. Também recebo enxurradas de mensagens, 70% tolas. Mas isso é estória para outro dia.
— Será que o motivo do incomodo é sua indumentária completa, ou será o cheirinho que você exala?
— Não me ofenda, senhorinha, não mereço tanto, pela atenção que estou lhe dedicando. Mesmo porque, não passo mais de noventa dias sem banhar-me em águas perfumosas.
— Humm... que granfa! Em que hotel consegue tanto luxo?
— Mais do que em qualquer fino hotel - no Rio Pinheiros.
Mas vamos ao que por primeiro a senhorinha referiu: - não se deve levar em conta a descendência e colaterais do  pretendido. 
Ao que você chama de pretendido, chamarei de  futuro cônjuge. Ou, simplesmente, conjuge para abranger ambos os sexos.
Então, a senhorita avalie a consistência do conselho dado pelo sábio emitente de conselhos. Ouça o que vou lhe estender.
Quem pretende investir seu dinheirinho em ações na bolsa de valores – simplesmente vai comprando qualquer ação? Não. Quem interessado, antes da compra, inteira-se  da idoneidade da empresa, a estabilidade, rentabilidade histórica de suas ações, etc. Não é Assim?
— Não entendo bem disso, mas faz sentido.
— Então creia, porque é assim mesmo. Antes da aquisição das ações há toda essa plêiade de predicados a ser coletada, na esperança de não dar com os burros n’água, por compras de ações problemáticas.
Da mesma forma, quem vai formar um cabril, ou curral leiteiro, no momento de aquisição dos animais o interessado não sai ao largo, simplesmente, comprando os que lhe apareçam pela frente, sem nenhum critério. Não! De cada animal, fêmea ou macho, o interessado averigua, da ascendência: o temperamento, a litragem média de produção das  mães, das avós ; a aptidão transmitida pelo avô e pai, às suas descendências.
Então veja. Se para simples empreendimento onde, em caso de insucesso, se perderá apenas algum dinheiro – que poderá ser recuperado, posteriormente - mesmo assim, por que tanta preocupação com a anterior obtenção de informações? Ora, porque, estatisticamente já está provado:   informações autênticas, obtidas, produzirão boas probabilidades de acerto, ou de erros pela ausência dessas, em qualquer empreendimento. Em dias atuais, é enorme a quantidade de pessoas que se dão mal por falta de informações.
Pois bem, senhorinha, geralmente, na terceira década de nossa existência, somos obrigados à tomada das duas mais importantes decisões: a da profissão a ser exercida, com o respectivo ambiente profissional a ser encarado. E a mais importante: a decisão sobre casamento. Crucial, por se tratar da escolha de com quem vamos partilhar nossa existência, e gerar filhos com índoles resultantes do casal, das ancestralidades, e da lapidação educativa que receberem.
Quanto a alguns cônjuges oriundos de famílias de conduta e  índoles insuportáveis, ainda que tenha acontecido, e possa acontecer, de se revelarem bons cônjuges, é baixo o índice estatístico dessas exceções. Muito mais eficaz é a estatística pró sucesso,  elaborada com base nos predicados que já lhe referi, há pouquinho.
Por mais, tenhamos também em conta: mesmo durante o namoro, pode haver grave erro de avaliação sobre o cônjuge, em face da capacidade de algumas pessoas esconderem a real personalidade, antes do casamento. Tremendo perigo!
Não há crime, nem falta ética, em pessoas criteriosas escolherem parceria para melhor ajuste à vivência conjugal. É um direito inquestionável. 
Não creia de imediato no que digo. Decida a não permitir que exímios converseiros coloquem invisível chip no seu cérebro, para torná-la serva. Se acolher esse meu conselho, permanecerá sempre dona de sua cabeça e de seu destino. Enquanto ainda muito jovem, ouça conselhos, penas , de seus pais e de pessoas próximas que a amam e lhe desejam o bem. Então inicie a partir de agora: quanto ao demais que de mim ouviu, vá examinando e concluindo por si.
— Boa essa sua idéia a ser levada em conta.

— Agora vamos ao segundo item da mensagem, que você recebeu do mesmo sábio. A que diz: não se deve dormir quanto o desejado, ou algo parecido.
Realmente, se o sono é patológico, a solução é a imediata ajuda médica. Mas se o sono é normal e, mesmo assim, aconselha-se não dormir o que a mente e corpo pedem, então o seu sábio, realmente, é um grande sábio, dotado de toda razão, por um simples motivo.
— E qual é o motivo?
— A Natureza é burra! Uma jumenta! E ele, uma sumidade. Porque, talvez, no seu entender, a pessoa dormindo menos do que o necessário, sobra mais tempo para se ganhar mais dinheiro, ou para se tornar robô de pilantras, já que o cérebro mal dormido permanece vulnerável, pelo estresse. No entender do sábio, a saúde, o equilíbrio mental das vítimas produzidas ... as vítimas que se lasquem!
Se existe algo de grande tormento ao mundo é a corja de impostores de todos os lados, afrontando a inteligência da nossa Mãe Natureza.  
O sono, de acordo com a constituição orgânica de cada um, é o mais importante processo de recuperação, de fortalecimento mental e físico. Manter pessoas em estado de vigília é o recurso predileto para seções de lavagem cerebral, na produção de fanáticos ativos em tempo integral.
— T’aí! Então... Pão Doce, vou considerar essa, de prevenida. Iniciarei não crendo de imediato em suas idéias. Nem crerei nas de outros. Assim será, a menos que eu me convença de ser bobagem o que me sugeriu. Ouvirei dos outros, sim, mas antes de internalizar as mensagens, analisarei tudo com atenção aguçada. Se encontrar fundamento, tudo bem. Se detectar falhas ou pontas soltas na lógica do que ouvi, vai tudo pro lixo. Foi mais ou menos isso que pretendeu me transmitir?
— Síntese perfeita, senhorita! Como é bom dizer coisas a pessoas inteligentes! Captam e mentalmente digerem tudo com facilidade.
— Surpreendo-me, Pão Doce, diante do que se pode aproveitar sobre o que disse. Uma vez, me fofocaram... você é mentalmente desequilibrado. Não notei tanto. Estou perplexa e tão contente, pelo alinhamento de suas palavras.
— Realmente, airosa moçoila, não é que eu seja um débil mental a todo vapor. Acontece que os gênios – entre os quais você deve me incluir - ainda que dotados de privilegiada amplitude cerebral, mesmo assim, são assoberbados por tempestades neuroniais. São tantos milhões de idéias, assemelhadas a elétrons e prótons trombando entre si, gerando curtos-circuitos mentais, que a esse efeito os broncos chamam de loucura.
Porém, tenho notado, e não é de hoje: a presença de jovens me é terapêutica. Essas pessoinhas serenam-me as torrentes mentais, me enchem de alegria, de esperanças, de plena certeza em melhor futuro aos gentios. Sou grato por suas perguntas e paciência em me ouvir.
— Já cheguei. O armarinho é ali.
Não seja por isso, Pão Doce... A agradecida sou eu. Tchaaau

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